O ESTADO NOVO E GETÚLIO VARGAS, UM MOMENTO DE CONTRADIÇÕES.
José Maurício Silva Lima
Graduado em Administração
Licenciado em História
Acadêmico de Direito da UESPI
Acadêmico de Direito da UESPI
O presidente Getúlio Vargas governou o Brasil tendo na sua administração inúmeras ambiguidades. Na história da presidência do Brasil, foi a Era Vargas o período da república que mais teve a marca do populismo e do nacionalismo exagerado.
Apesar de ser um governo forjado por um golpe político, pois nasceu do rompimento da política “Café-Com-Leite” e após a derrota nas eleições para Júlio Prestes, Getúlio soube travar uma luta “diplomática” com a situação e a oposição, de modo a conseguir manter-se no poder por tanto tempo. Naquele momento, o Brasil e o mundo viviam uma crise econômica e financeira. O Brasil tinha um sistema político onde as decisões estavam nas mãos de poucos, centralizado nas oligarquias regionais e estaduais.
O governo de Vargas foi à primeira ditadura do Brasil, apesar de Vargas ser visto pelo povo, como alguém preocupada com suas necessidades, pois seu governo foi sempre apresentado como um governo democrático e voltado para os interesses da nação brasileira. Nesse contexto Vargas busca uma representação consistente no olhar dos trabalhadores, essa representação vai se transformando em apoio do povo ao seu governo, à medida que ele toma decisões que favorecem os trabalhadores, como comenta Boris Fausto: “O Estado Novo foi a primeira ditadura do Brasil, [...] Mas o Estado Novo tinha apoio popular, mesmo silencioso. Lembremos das medidas favoráveis aos trabalhadores urbanos...”. Através dessas medidas e de uma propaganda bem montada a seu respeito junto à classe trabalhadora, Getúlio Vargas foi ao longo do tempo construindo seus alicerces junto ao povo brasileiro. Apesar de muitas vezes ter enfrentado um quadro político que não o favorecia, soube usar muito bem o apoio popular, velado, mas existente, para levar a frente suas intenções como governante.
Getúlio Vargas é visto até hoje como o presidente da república que mais se preocupou com a classe trabalhadora no Brasil. Implantando direitos que até aquele momento a legislação não favorecia ao trabalhador, tais como: oito horas de trabalho por dia, leis para o trabalho noturno, férias, organização do trabalho feminino e dos menores, etc. Vários avanços que foram trazendo a classe trabalhadora para o seu lado. Jorge Ferreira, em seu livro: Trabalhadores do Brasil – o imaginário popular, através da interpretação das cartas escritas por trabalhadores a Getúlio Vargas em comparação ao comportamento do governo em relação a esses mesmos trabalhadores, coloca que: “... o governo patrocinou uma política pública voltada exclusivamente para os operários, instituindo, assim, novas relações entre Estado e classe trabalhadora...”. Desse modo vemos que apesar das contradições existentes, o governo varguista, teve uma grande aceitação popular, devido essa preocupação latente com a classe trabalhadora. Jorge Ferreira a ainda nos diz que: “.... Para os trabalhadores, o regime anterior a Vargas foi marcado fundamentalmente pela inexistência da justiça. [...] O governo chefiado por Vargas representou, por fim, o coroamento de todo o processo e a conseqüente realização da justiça para os pobres e os trabalhadores.” Para uma ditadura, ser vista junto ao povo como um governo justo, foi por demais uma vitória, o que nos leva a perceber mais ainda essas contradições e o dualismo da Era Vargas. Além dos trabalhadores, ele buscou uma aproximação com a igreja, pois sabia que isso seria de suma importância para que ele pudesse conseguir o apoio da sociedade.
Outro momento de contradição que podemos perceber no governo de Getúlio Vargas, é de como um regime de linhas totalitárias, que era o dele, reagiu quando teve que tomar uma posição em relação à Segunda Guerra, ficando do lado dos Aliados e não do Eixo, como era de se esperar. Visto que mantinha uma relação muito próxima com o Nazismo de Hiltler. Tanto que utilizou da Lei de Segurança Nacional, para enviar Olga Benário, uma militante comunista e esposa do líder comunista Luis Carlos Prestes, para o governo nazista. Mas, segundo Fausto: “... Ele percebeu o significado da posição do Brasil no mundo ocidental, com a enorme influência do (...), Estados Unidos. Fugir desse campo seria uma aventura extremamente arriscada...”. A influência americana e ação dos alemães contra a Marinha Brasileira, deram a Getulio os motivos necessários para a ruptura com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), tendo até declarado guerra contra os mesmos. E ainda, segundo Fausto: “...Em um clima patriótico, criaram –se as condições para que o Brasil mandasse a Força Expedicionária Brasileira, a FEB, para lutar na Itália...”.
Getúlio propiciou a modernização do país, através da industrialização. Centralizou o poder em suas mãos, retirando das oligarquias estaduais o peso das decisões de cunho nacional, o que agradava a muitos estados, principalmente os menos desenvolvidos, desagradando aos estados do sul e sudeste. Getulio, também foi um presidente, que em nome do país e da segurança nacional, institui a repressão aos movimentos organizados dos trabalhadores, isto é, a um sindicalismo autônomo. Os sindicatos tinham que ter autorização do governo para funcionar, de acordo com Fausto: “... Tudo foi feito de cima para baixo, autoritariamente.”, desse modo, quem não se enquadravam nas regras impostas por seu governo, corria sério risco de enfrentar a “fúria” da repressão varguista.
Como nenhum outro presidente, Getúlio soube trabalhar todas essas diferenças, buscando os suportes necessários para a realização de suas metas. Como todo grande estrategista, soube trabalhar com os desejos do povo, atendendo-os quando interessava ou reprimindo nos momentos críticos. E como um grande político, soube criar condições favoráveis para tomar suas decisões, mesmo àquelas que pudessem ser vistas como autoritárias. Agora, a maior contradição de Getúlio Vargas, foi sua morte.
Referência Bibliográfica:
FAUSTO, Boris. Cadernos da TV Escola. História do Brasil - História do Brasil / por Boris Fausto. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação a Distancia, 2002 .
FERREIRA, Jorge Luiz. Trabalhadores do Brasil: o imaginário do povo. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1997.